sábado, 7 de janeiro de 2012

O SÍMBOLO COM LINGUAGEM DOS DEUSES

Juarez de Fausto Prestupa



De acordo com os psicólogos, a formação do símbolo[1] se dá na fase da infância. Neste período, ainda conforme os psicólogos, não existe diferenciação, na mente da criança, do que seja ela e o mundo que a cerca, principalmente da mãe. A criança vive em um mundo único cujo centro é ela mesma. Ou seja, a união é total e completa, dentro de sua concepção. Não existem limites, distâncias, barreiras, empecilhos.

Ora, esta sensação, uma das primeiras de nossa existência, assemelha-se em muito com o conceito de unicidade que se pensa existir quando nos aproximamos de Deus. Mais do que isto, assemelha-se com a própria sensação de ser Filho de Deus, ou seja, uma divindade sem fim nem começo, sem limites. A sensação de participar de tudo e não ser nada isoladamente está relacionada com a carta do Louco do Tarô. É o que se supõe que possamos experimentar ao atingir um estado superior de consciência.

Então, agora se pode entender porque se diz que os símbolos é a linguagem dos deuses.

Os símbolos representam uma profunda, ancestral e inequívoca emoção coletiva. Eles também são o que de mais profundo e radical existe em termos de emoções e vivências reais da humanidade. Ou seja, revelam um amplo, completo e incorruptível conhecimento da realidade concebido através de gerações, milênios e ao custo de muito descaminho, dor e decepção. Ora, então, aqui o “real” tanto significa “relativo aos reis” quanto “ao que é absolutamente verdadeiro, a mais pura realidade”. Ou seja, apesar do símbolo retratar emoções ou subjetividades, ele nos fornece um caminho seguro de acesso à verdade objetiva do interior humano e consequentemente à justiça.

O acesso á verdade também é conhecido por ciência ou conhecimento, que, quando amplo e holístico ganha o nome de sabedoria. Para o ser humano existem dois tipos de coisas: as conhecidas e as desconhecidas. As conhecidas são, de certa forma, “dominadas”, e, portanto não oferecem perigo, pelo contrário, são território seguro para um caminhar equilibrado rumo ao desenvolvimento. As desconhecidas são geralmente motivo de pânico, medo e na maioria das vezes execração e fuga.

A experiência de acesso a algo real, verdadeiro, por menor que seja, nos confere uma sensação de referência ou segurança. Simbolicamente, é como que um retorno ao Jardim do Éden, resultando em euforia, tranqüilidade, segurança e paz. Mais do que isto, a experiência da verdade nos aproxima de Deus e isto ganha o nome de hierofania. Esta hierofania, ou experiência de uma verdade através da vivência de uma emoção original nos remete então ao estágio anterior à criação, precede ao mundo caótico e confuso[2].

O símbolo, por suas características já enunciadas, dependendo de nossa vontade sincera e concentração emocional sem ressalvas, pode nos proporcionar esta hierofania e o acesso a uma verdade absoluta, um contato com o “Centro do Mundo”, mesmo que por apenas alguns instantes por um pequeno ângulo. Este conceito é muito importante porque não se pode começar nada e nem mesmo se fazer nada sem a existência de um ponto central, uma referência de onde se partir. Isto é a garantia de economia de energia, tempo e recursos, garantindo-se assim um constante desenvolvimento rumo à conquista ou sucesso do que se propôs inicialmente. A experiência fora da hierofania é repleta de preconceitos, medos, inseguranças, etc. É tudo o que os tiranos, déspotas e manipuladores se aproveitam para dominar e controlar as pessoas. Ou seja, a vida distante do conhecimento e estudo dos símbolos é um caminho incerto, frágil, sem apoios, propensa a conduzir à submissão, ao erro, ao sofrimento e à decepção. É um universo fragmentado, sem certezas ou referências. A única regra é a da “tentativa e erro”, garantidos muito mais erros do que acertos.

Mircea Eliade afirma que “traduzir uma imagem na sua terminologia concreta, reduzi-la a um único dos seus planos referenciais, é pior do que mutilá-la, é aniquilá-la, anulá-la como instrumento de conhecimento[3]”. É por esta razão que não adianta decorarem-se definições dos símbolos, o símbolo existe exatamente para não ser definido, mas sim experimentado em toda a sua essência.

Einstein já dizia que o universo é infinito, porém pode ser representado como uma esfera. Ou seja, se rodarmos sobre uma esfera, não encontraremos fim, mas sabemos que na direção para fora de seu centro existe sim um limite. Da mesma forma, em termos de planos, tridimencionalmente nosso universo não tem limites em seu próprio plano, mas é limitado se concebido em termos de outros planos. Em Cabala estudamos os Sefirote que são mundos ou universos distintos uns dos outros onde o G\A\D\U\ se manifesta com nomes e atributos especiais e diferentes. São universos (um verso da Criação) que compõem o Cosmos espiritual, psíquico e material. A palavra hebraica Sefirote é o plural de outra (Séfira) que pode ser traduzida por “esfera”, justamente a simbologia utilizada por Einstein!

Cada Séfira tem, por exemplo, um nome ou atributo de Deus, uma hierarquia “angélica” e uma regência planetária. O estudante atencioso perceberá então que o simbolismo astrológico o conduz ao conhecimento dos diversos universos da Criação e que um simples símbolo planetário poderá lhe anunciar a possibilidade de uma experiência, conhecimento ou contato divino diferente e magnífico.

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